Para ter o Brasil como terceiro maior mercado, a foodtech chilena NotCo planeja investir R$ 50 milhões no País.
Os alimentos à base de plantas já mostraram que são mais do que uma simples tendência. Entre 2018 e 2021 as vendas globais do segmento de carnes vegetais cresceram 64%, saindo de aproximadamente US$ 3,2 bilhões para cerca de US$ 5,6 bilhões. Já a indústria de leites vegetais cresceu 11% no mesmo período, chegando a US$ 17,8 bilhões, de acordo com pesquisa do The Good Food Institute. A expectativa é que até 2050 o mercado de proteínas alternativas ultrapasse US$ 1 trilhão, segundo a Credit Suisse.
Com tanto dinheiro envolvido, diversas empresas têm surgido para garantir sua fatia. Sejam grandes corporações historicamente ligadas à proteína animal, como JBS e Marfrig, ou startups — as chamadas ‘nativas do segmento’ —, como a chilena NotCo. Avaliada em US$ 1,5 bilhão, já investiu R$ 150 milhões no Brasil e prevê outros R$ 50 milhões para 2023. O montante será direcionado para aumentar os pontos de venda, diversificar o portfólio e melhorar a estrutura por aqui. Tudo em nome do potencial do mercado nacional, que deve se tornar seu terceiro maior, segundo a companhia, brigando lado a lado com o México pelo segundo lugar.
A NotCo tem a expectativa de dobrar o faturamento no País em 2023, chegando a R$ 100 milhões. Para isso, prevê a abertura de um centro de inovação em maio, lançamento de novas categorias e fortalecimentos das já existentes, com diversificação de tamanhos e sabores. Nos últimos quatro meses do ano passado, a empresa lançou três novos produtos: creme de leite, leite com alto teor de proteína e carnes. “Claro que seria superlegal lançar 50 produtos por ano, mas também queremos fazer de forma responsável”, disse Mauricio Alonso, general manager Brasil da NotCo. “Queremos entregar a melhor experiência de portfólio para o consumidor e estar seguro de que quando lançamos algo no mercado é o melhor.”
Outra ponta da estratégia de crescimento é a ampliação dos pontos de vendas. Em 2022, a NotCo estava em 5 mil lugares. Para este ano, a previsão é alcançar 8 mil lojas. Além disso, busca por parcerias B2B para inserir suas criações em restaurantes e empresas de food service. No último ano, grandes redes passaram a oferecer produtos NotCo, como Casa do Pão de Queijo, com o leite vegetal NotMilk, e o Mr. Cheney.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL Tendo como base uma solução de inteligência artificial própria chamada Giuseppe, a empresa desenvolve fórmulas de produtos vegetais que se assemelham em textura e sabor à versão animal. Para isso utiliza uma base de dados que considera os milhares de ingredientes vegetais do mundo. A partir daí, a tecnologia cria possíveis fórmulas que serão testadas para eventualmente serem fabricadas. Essa combinação faz com que a composição seja diversa e nada ortodoxa. Para o leite vegetal, por exemplo, figuram na lista óleo de coco, fibra de chicória, proteína de soja, suco de abacaxi concentrado, proteína de ervilha e suco de repolho concentrado.
O perfil do consumidor dos produtos, ao contrário do que a categoria sugere, não foca nos veganos. De acordo com a Euromonitor, quem mais busca por esses alimentos são os chamados flexitarianos, pessoas que reduzem o consumo de ingredientes de origem animal em busca de saúde, sustentabilidade e qualidade de vida — que, em teoria, produtos vegetais oferecem com mais facilidade. No quesito ambiental, de acordo com pesquisa interna da NotCo, a empresa usa 80% menos energia, 75% menos água e gera 94% menos CO2 na produção de sua carne, comparado com o correspondente de origem animal. Já na questão de saúde, especialistas de alimentação advertem que mesmo tendo fonte vegetal, os produtos ainda se enquadram como ultraprocessados, portanto devem ser consumidos com a parcimônia que essa categoria exige.
De acordo com Alonso, a startup aposta em formulações que consideram questões nutricionais, como uso de diferentes proteínas e ingredientes que resultem em um valor nutricional igual ou melhor que seu correspondente animal. “Nós existimos para revolucionar e evoluir a forma como se faz alimentos na indústria”, disse. “E isso tem a ver com que tipos de ingredientes utilizamos até processos para acelerar formulações com o uso da inteligência artificial.”
Mas nem é preciso de algoritmos para entender que a receita de crescimento da NotCo é promissora. Na lista de ingredientes, um setor em pleno crescimento, um público consumidor ávido por novidades e capital para investimento, dado os US$ 400 milhões já captados. Com a fórmula certeira, o unicórnio tem a faca e o queijo (vegetal) na mão.
Fonte: Istoé