De acordo com o The World Economic Forum, em 2050, a população mundial deve chegar a 9,8 bilhões de habitantes. Esse crescimento da população e aumento de renda resultará em um aumento de 88% na demanda de proteína para alimentar a população mundial. Por esse motivo, empresas do mundo inteiro estão a procura de novas alternativas para as proteínas animais. Em um primeiro momento, a procura por novas fontes de proteínas se concentrou no reino vegetal. Agora, aparecem novas tendências.
Com certeza, já ouviram falar da carne de laboratório, mas sabem o que ela é, como é feita? Na realidade, poucas pessoas sabem, realmente, do que se trata.
O processo de produção de carne de laboratório se inicia retirando células do músculo de um animal doador vivo, como aves, ovinos, suínos ou bovinos. Essas células são modificadas em laboratório para funcionar como células tronco, que são células que podem se transformar em qualquer órgão ou tecido. São células cultivadas em uma solução de nutrientes, dentro de biorreatores, onde vão se multiplicando; células tronco são convertidas em células musculares que formam fibras e, essas pequenas fibras de carne, podem ser utilizadas para produção de carne processada, como hambúrguer, salsicha e agregados de frango, nada parecido com um bife ou uma picanha. Existem laboratórios testando a impressão de peças de carne misturada à gordura, utilizando impressoras 3D, em uma tentativa de recriar a textura e sabor da carne natural.
O meio de cultura mais utilizado é o soro fetal bovino, que é extraído de fetos bovinos vivos. Conhecido com FBS, esse soro fetal contém proteínas que ajudam a crescer e a replicar células animais em um ambiente controlado. O uso desse material em laboratório não é novo. De fato, os cientistas cultivam células animais fora do corpo - para fins medicinais, no início, e depois na indústria alimentícia - desde a década de 1950.
“Esse fato perturbador cria um dilema para a carne produzida em laboratório, já que não se pode comercializar um produto como livre de abate - muito menos vegano - quando se usa um subproduto de matadouros para cultivá-lo”, explica a especialista em biotecnologia Christina Agapakis. Além de tudo, é caro. Um litro de soro fetal é vendido nos Estados Unidos por aproximadamente US$ 1.000 (cerca de R$ 5.000 na cotação atual). Fato é, não é uma solução para vegetarianos e veganos.
Do ponto de vista da sustentabilidade, as conclusões são favoráveis para carne produzida em pasto, visto que os biorreatores consomem grande quantidade de energia. De acordo com o jornal The Guardian, a pequena escala de produção de carne de laboratório requer elevado uso de energia e, portanto, de emissões de carbono. Por fim, um estudo da Universidade de Oxford comparou diferentes sistemas de produção de carne e sugere que as emissões de CO2 da produção de carne em laboratório podem ser mais prejudiciais a longo prazo do que a produção de carne natural.
A carne de laboratório pode ser produzida mais rapidamente do que a carne natural, sim, porém terá que competir com outras fontes alternativas de proteína, como “plant-based” e proteína de insetos.
Até agora, a carne de laboratório é um mero exercício acadêmico, comercialmente inviável, sem nenhuma interferência no mercado plant-based. Será que haverá espaço e demanda para carne produzida em laboratório, a curto prazo, não.