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Um grande avanço para carne cultivada

Pela primeira vez, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA deu luz verde a um produto de carne cultivada como parte do processo de revisão antes da comercialização do produto. Confira análise do GFI e saiba o que isso significa na prática!

Em novembro, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA divulgou que concluiu sua primeira consulta de pré-comercialização para um produto de carne cultivada. A empresa avaliada é a UPSIDE Foods, cujo produto é um frango cultivado produzido através da tecnologia do cultivo celular. A UPSIDE Foods é uma empresa de tecnologia de alimentos com sede em Berkeley, na Califórnia, fundada em 2015 com o objetivo de produzir carne cultivada de forma sustentável.

Após um processo longo que começou em outubro de 2021 e contou com quatro etapas de avaliação, a empresa concluiu com sucesso a rigorosa revisão de segurança pré-comercialização da FDA, demonstrando que o produto é tão seguro quanto o frango convencional.

Mas o que isso significa na prática? Os americanos já poderão comprar esse produto no mercado?

Na verdade, o processo até a liberação para comercialização do produto ainda tem mais alguns passos. Nos Estados Unidos, o United States Department of Agriculture (USDA) e a FDA estabeleceram um acordo formal para realizar, de forma conjunta, a regulamentação de carnes cultivadas. Ou seja, os produtos alimentícios produzidos a partir de células de espécies regulamentadas pelo USDA, Federal Meat Inspection Act (FMIA) ou pelo Poultry Products Inspection Act (PPIA), serão regulamentados pela FDA durante a coleta, seleção e cultivo de células e pelo USDA/FSIS durante o processamento e rotulagem subsequentes.

Portanto, além de atender aos requisitos do FDA, que inclui o registro da instalação para a parte da cultura celular, a empresa precisará de uma concessão de inspeção do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-FSIS) para o estabelecimento de fabricação. Além disso, o próprio alimento requer uma marca de inspeção do USDA-FSIS antes de entrar no mercado dos EUA.

Embora o processo de revisão seja específico para o frango cultivado da UPSIDE Foods, este é um marco histórico importante que abrirá caminho para que os consumidores possam acessar esses produtos em restaurantes e no varejo nos EUA. Além disso, a análise rigorosa desse agência e a obtenção da aprovação sem questionamentos, corrobora as informações que vem sendo levantadas em estudos relacionados à segurança dos produtos de carne cultivada.

Separamos alguns pontos que merecem destaque:

  1. A FDA não identificou nenhuma propriedade das células avaliadas que pudesse torná-las diferentes de outras células animais com relação à segurança para o consumo. Isso sugere essencialmente o reconhecimento de uma equivalência substancial entre células crescidas dentro do corpo dos animais e células crescidas em biorreatores em termos do seu uso como alimento.
  1. A FDA reconheceu que as células da carne cultivada não terão a capacidade de sobreviver fora do biorreator muito menos sobreviver ao preparo, como cozimento, e também à digestão. Este apontamento é importante especialmente quanto às preocupações relacionadas à ingestão de células cancerígenas ou carne cultivada causando câncer.
  1. Fatores de crescimento, muitas vezes entendidos como hormônios, são um dos componentes utilizados no processo produtivo da UPSIDE Foods, assim como no de muitas outras empresas de carne cultivada. Uma preocupação quanto à segurança é a de que resíduos de fatores de crescimento usados na produção poderiam permanecer no produto final. Para a FDA, considerando o processo, identidade dos fatores utilizados (que também estão presentes na carne de frango convencional) além de outras informações adicionais, os níveis residuais de fatores, se presentes, devem estar em níveis mínimos e portanto não são uma preocupação de segurança. As células terão “comido” e “digerido” muito dos fatores de crescimento antes de chegar ao produto final.

Esse anúncio histórico feito pela FDA inicia ressaltando que o mundo está passando por uma revolução alimentar e que a agência está empenhada em apoiar a inovação no fornecimento de alimentos. O GFI tem defendido que a carne cultivada tenha um caminho claro para o mercado sob um processo regulatório justo e transparente. Por isso celebramos essa notícia!

O que o FDA avaliou?

Como já comentamos, nos EUA existem dois ógãos que atuam de forma conjunta na regulamentação de carnes cultivadas (FDA e USDA). Ao FDA compete a análise a parte inicial do processo de produção, desde a etapa onde as células são isoladas do animal doador, passando pela etapa de preparação de bancos ou “estoques” dessas células, e também a análise de todas as substâncias utilizadas durante o processo de cultivo para obtenção da grande quantidade de células desejadas (etapas proliferação e diferenciação).

A FDA avalia também o produto final desse cultivo: a biomassa de células obtida no final da etapa de cultivo celular. Essa etapa é chamada de etapa de coleta, que é nada mais que a drenagem e retirada das células dos reatores ao fim do cultivo. A agência avaliou todos os potenciais de riscos no processo de produção durante todas essas etapas citadas para garantia da segurança do produto gerado, incluindo: a avaliação de perigos da empresa em cada etapa de produção, como a empresa planeja aplicar o controle de segurança alimentar medidas com base na sua avaliação, como a empresa monitora o crescimento e a qualidade das culturas de células durante a produção.

Para mais informações, consulte: What the FDA Evaluated During the First Completed Pre-Market Consultation

O que é carne cultivada e como é produzida?

Carne cultivada é a carne animal produzida a partir do cultivo das células animais. O cultivo das células é realizado reproduzindo o processo biológico que ocorre dentro dos animais e a carne cultivada resultante é composta pelos mesmos tipos celulares que fazem parte do tecido muscular animal, por isso pode reproduzir o perfil sensorial e nutricional da carne bovina, frango, frutos do mar ou de outros produtos de carne produzidos convencionalmente. A partir de uma única célula, multiplicações sucessivas em biorreatores e posterior diferenciação e maturação é possível produzir carne em escala industrial. Para saber mais sobre essa tecnologia consulte os nossos recursos.








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